segunda-feira, 19 de março de 2012

entrevista ao portal "Rock Potiguar"

                                                                                    Foto: Martins dos Santos
Letto nasceu no Rio de Janeiro, mas não é carioca. É potiguar. Cresceu, aprendeu e desenvolveu tudo o que sabe – na música ou não – aqui na Terra de Cascudo. Em 2010 deu uma louca em busca de novos ares e se mudou pra a cinza cidade de São Paulo. Hoje ele mora naquela cidade em que nasceu, mas que não conhecia. Neste domingo à noite, através do Facebook, bati um papo com esse artista de um olhar diferenciado sobre o mundo ao seu redor. Confira.

Por Rodrigo Cruz

RockPotiguar – Você estava começando a ter uma visibilidade legal aqui em Natal e, de uma hora pra outra, se mandou pra São Paulo. O que te motivou a essa mudança?
Letto – Boa pergunta. É fato que vinha sentindo uma certa evolução com relação a aceitação do publico potiguar, desde do Elegia e Seus Afluentes (sua antiga banda)  até a carreira solo. Havia momentos em que me sentia bem fazendo repetidas vezes o que fazia. Mas sempre fui muito inquieto com o fato de viver há 24 anos no mesmo lugar, e tocando semanalmente nos mesmos lugares. Claro que sempre enfrentei dificuldades como todos os artistas que dividem angústias, independente do lugar, e isso é importante destacar. Qualquer lugar em que você esteja, haverá muros para quebrar, mas o buraco é mais embaixo.
Mudei de cidade, porque precisava me desafiar, sair da zona de conforto (se é que tal situação pode ser citada em terras potiguares). A partir do momento em que mudo o lugar onde vivo aumento as possibilidades de criação, quebro uma rotina que já me incomodava, e de certo modo evoluo com as novas formas e cores que a região central do Brasil permite! Tal mudança poderia ser feita em 2006, mas só foi em 2010 e gosto de me sentir livre o suficiente para poder estar em lugares diferentes, recebendo informações. Nos últimos dois  anos
morei e tô morando nas duas maiores cidades deste país colonizado, e isso mexe com sensações que na minha opinião, todos os seres humanos deveriam sentir. A consciência de que pra falar de certas coisas é preciso
tentar se aproximar o máximo das situações, pois Natal ainda existe, assim como São Paulo, assim como o Rio, lugar onde hoje vivo, aprendo e compartilho.
Quando você se mandou para o Sudeste, já tinha alguns contatos por lá ou foi garimpar sem nada certo? Conseguiu viver da música lá?

Tinha alguns contatos inclusive família. Na música, nada concreto, foi como correr atrás de um trem com o violão nas costas sem saber aonde ele vai. A ideia era morar um tempo mesmo, fazer alguns concertos. Sempre gostei da ideia de ser um lugar frio climaticamente falando. Mas enchi o saco logo, foi bem difícil na verdade. Digamos que São Paulo pra mim foi pra trabalhar o desapego que eu precisava.
E o que te fez se mudar de novo, dessa vez para o Rio de Janeiro? Foi apenas por ter enchido o saco?
Sim. Estava para voltar a Natal, mas decidi ir conhecer o lugar onde nasci, mas a ideia era só conhecer mesmo: ir no Cristo Redentor, no Pão de Açúcar, bater uma pelada em Copacabana, conhecer os artistas alternativos do Rio, subir o morro e ver uma baile funk. Nada demais. Só que devido a minha pesquisa onde seria o tal circuito alternativo, conheci vários compositores cariocas através de um movimento artístico chamado Cauibi, organizado pelo cantor e compositor André lemos. Foi incrível a interação e identificação com a musicalidade que encontrei. Aí fui sendo convidado para fazer parte de projetos paralelos e está acontecendo . Hoje tenho uma banda formada por músicos cariocas e estamos produzindo juntos. Amigos que se juntaram a mim, e só tenho a agradecer por isso. Em breve vocês saberão mais sobre a banda.
Tá dando pra viver da música?
Sim. E é isso que faço! Música ou produção ligada a musica! Ou seja, música! Em Natal também vivia só de música e teatro basicamente. Louco, né? Ao trancos e barrancos. Mas é isso mesmo! Mas claro, não pagava aluguel e não morava na cidade mais cara do Brasil. Ou seja, de certa forma não era tão difícil me sustentar. Mas agora são outros quinhentos, não tem mãe pra te dar comida. E esta mudança tem sido muito digno pra uma evolução pessoal.
Música através de poesia? Poesia através de música? O que melhor caracteriza o seu trabalho?

Reflexão através da música, imagens através das poesias e liberdade!
O público do Sudeste é mais aberto à músicas autorais do que os do Nordeste, ou não tem essa diferença?

Diferença nenhuma! Ambas tem a capacidade de abrir e fechar a mente da mesma forma! A única diferença é o tamanho do que chamamos daquela galerinha alternativa. Aliás, turminha alternativa, que no caso do Sudeste é bem maior.
Maior proporcionalmente ao tamanho das cidades?

Exato.
Vamos falar um pouco sobre o seu vídeo-clipe da música “Aeroporto de Pipas”. Ele é resultado dessas novas vivências de luta e solidão? Fale um pouco sobre onde esse roteiro quis chegar.

Aeroporto de pipas é a faixa 1 do EP “Fotografia das Falas” que lancei em Janeiro deste ano. E é sim resultado desta nova fase de vivência e composições. Apesar de buscar criar canções que assumidamente propõe imagens ao ser lida ou ouvida, nunca dei muita atenção a linguagem audiovisual , até mesmo por questões técnicas e equipamentos. Nunca tive uma boa câmera e o Martins dos Santos (diretor do clipe) estava pilhado com sua nova câmera e me fez a proposta de fazer um vídeo-clipe da canção. A princípio pensamos num cara qualquer andando por diferentes lugares ouvindo a música, essa foi a ideia básica. Pensamos num pré-roteiro, que claro, quebramos tudo, pois na hora “H” foi tudo de improviso. Eu estou ouvindo a mesma canção porém em diferentes lugares, e é basicamente o que a letra fala, sobre esse passeio que pode brincar com as palavras e melodias, e que cor imaginar pra onde olho quando estou com fone de ouvido, mergulhado num universo que está e não está totalmente ligado ao externo. Tem o detalhe de que às vezes ando, às vezes corro, às vezes paro, às vezes pedalo e às vezes dirijo. Ou seja, mudamos o ritmo, ditamos o ritmo, e somos livres para pintar da cor que quisermos nossos pensamentos. Enfim, não sei se te respondi, mas o fato de não te responder por completo, talvez seja válido, uma vez que estamos falando de música improviso e intervenção urbana. É difícil falar de um trabalho compartilhado.
O que você anda ouvindo, lendo e/ou vendo para te inspirar a cada dia que passa?

Ando ouvindo muito rock carioca e essas novas bandas hipster, lendo livros aleatórios e vendo filmes. Pedalando, indo à praia,  jogando bola com os amigos… Enfim, tudo me inspira, até mesmo a nostalgia de estar falando contigo agora diretamente de Natal!
Pretende voltar para essa terra sem leis (de incentivo)?

Por que não?
Talvez por que aqui não se pagam cachês, ou pagam pouco, ou por que os governantes confundem produção de shows com cultura, ou até mesmo por que você pode estourar o pneu do seu carro indo até o estúdio ensaiar…

Boa. Publica isso.
Não tenho planos de retornar a morar em Natal. Até porque já vivi mais de duas décadas neste lugar. Quero viver mais pelo Sul/Sudeste . Porém é um lugar que quero sempre ir. Sempre, sabe… família, amigos, paixões, sotaque, concertos, tudo isso às vezes nos toca. Fazemos parte um do outro.
Algum novo trabalho à vista?

Estou produzindo novo material já, que inclusive pretendo levá-lo pra Natal em fevereiro de 2013.
Dessa vez é um CD completo ou um novo EP?

Um novo EP. Cada vez mais tenho a ideia de ir lançando material e não discos com onze, doze faixas, sabe, e sim lançando o novo material. Terá no mínimo três canções no máximo cinco. Isso porque estamos vendo as questões de tempo de cada um, mas agora realmente prefiro deixar entreaberto, mas a previsão é junho.
Ah, tem detalhe! No final de abril lançarei um single produzido por um compositor mineiro, “João Freitas”.

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